O Centenário de Rubem Braga
Há 100 anos nascia Rubem Braga, um dos mais importantes cronistas brasileiros, depois de Machado de Assis. Nascido em Cachoeiro do Itapemirim (ES), o jornalista e escritor morreu em 1990, aos 77 anos, vítima de um câncer na laringe, deixando aproximadamente 15 mil crônicas e cerca de 30 livros.
"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na
porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem
para não me deixar entrar, ele ficará indeciso
quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."
Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos.
A causa da morte foi uma parada
respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem
tratar quimicamente.
Rubem Braga, considerado
por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro
de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém,
quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro
e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam
alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito
no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter
participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução
Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu
Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
Na capital mineira se casou, em
1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu
único filho Roberto Braga.
Foi correspondente de guerra do Diário
Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em
1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife,
Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro,
primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, numa
casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em
Ipanema.
Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não
foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em
diversas ocasiões andou se escondendo da repressão.
Seu primeiro livro, "O Conde e o
Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora
José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi
orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto
como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por
gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga teve a
característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar
célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem
almeja a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma
descrição de si mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia
seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas
é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de
funcionamento."
Foi com Fernando Sabino e Otto Lara
Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá, responsável
pelo lançamento no Brasil de escritores como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e
Jorge Luis Borges.
Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a
marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética,
na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos
cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
A chave para entendermos a popularidade
de sua obra, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada
pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões
("A grande dor das coisas que passaram") fora escrito apenas com
palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela
linguagem coloquial e pelas temáticas simples.
Como jornalista, Braga
exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas
do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de
"O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo
de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do
Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos
Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do
Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do
jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na
Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era
funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse: "O Rubem
era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao
mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse
uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava
apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a
Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia
isto mantendo um grande apelo popular."
Bibliografia:
CRÔNICAS:
- O Conde e o Passarinho, 1936
- O Morro do Isolamento, 1944
- Com a FEB na Itália, 1945
- Um Pé de Milho, 1948
- O Homem Rouco, 1949
- 50 Crônicas Escolhidas, 1951
- Três Primitivos, 1954
- A Borboleta Amarela, 1955
- A Cidade e a Roça, 1957
- 100 Crônicas Escolhidas, 1958
- Ai de ti, Copacabana, 1960
- O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento, 1961
- Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964
- A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964
- A Traição das Elegantes, 1967
- As Boas Coisas da Vida, 1988
- O Verão e as Mulheres, 1990
- 200 Crônicas Escolhidas
- Casa dos Braga: Memória de Infância (destinado ao público juvenil)
- 1939 - Um episódio em Porto Alegre (Uma fada no front), 2002
- Histórias do Homem Rouco
- Os melhores contos de Rubem Braga (seleção Davi Arrigucci)
- O Menino e o Tuim
- Recado de Primavera
- Um Cartão de Paris
- Pequena Antologia do Braga
- O Morro do Isolamento, 1944
- Com a FEB na Itália, 1945
- Um Pé de Milho, 1948
- O Homem Rouco, 1949
- 50 Crônicas Escolhidas, 1951
- Três Primitivos, 1954
- A Borboleta Amarela, 1955
- A Cidade e a Roça, 1957
- 100 Crônicas Escolhidas, 1958
- Ai de ti, Copacabana, 1960
- O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento, 1961
- Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964
- A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964
- A Traição das Elegantes, 1967
- As Boas Coisas da Vida, 1988
- O Verão e as Mulheres, 1990
- 200 Crônicas Escolhidas
- Casa dos Braga: Memória de Infância (destinado ao público juvenil)
- 1939 - Um episódio em Porto Alegre (Uma fada no front), 2002
- Histórias do Homem Rouco
- Os melhores contos de Rubem Braga (seleção Davi Arrigucci)
- O Menino e o Tuim
- Recado de Primavera
- Um Cartão de Paris
- Pequena Antologia do Braga
ROMANCES:
- Casa do Braga
ADAPTAÇÕES:
- O Livro de Ouro dos Contos Russos
- Os Melhores Poemas de Casimiro de Abreu (Seleção e Prefácio)
- Coleção Reencontro Audiolivro - Cirano de Bergerac - Edmond Rostand
- Coleção Reencontro: As Aventuras Prodigiosas de Tartarin de Tarascon Alphonse Daudet
- Coleção Reencontro: Os Lusíadas - Luis de Camões (com Edson Braga)
- Os Melhores Poemas de Casimiro de Abreu (Seleção e Prefácio)
- Coleção Reencontro Audiolivro - Cirano de Bergerac - Edmond Rostand
- Coleção Reencontro: As Aventuras Prodigiosas de Tartarin de Tarascon Alphonse Daudet
- Coleção Reencontro: Os Lusíadas - Luis de Camões (com Edson Braga)
TRADUÇÃO:
Antoine de Saint-Exupéry - Terra dos
Homens.
SOBRE O AUTOR:
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